Conheça a história e a importância de Domingos Severino Narloch para Rio Negro

Neste dia 15 de novembro o município de Rio Negro-PR completa 154 anos de história. E dentro dessa longa história há grandes realizações feitas por pessoas que nem sempre tiveram o merecido reconhecimento. Um exemplo disso é o senhor Domingos Severino Narloch. São várias as ações feitas por ele em prol do desenvolvimento de Rio Negro e de toda a região.

As realizações de Domingos colocaram o município de Rio Negro em destaque a nível nacional e internacional. E são ações que eu gosto muito, pois envolvem áreas que eu aprecio bastante, como o empreendedorismo, a comunicação e a valorização da história e cultura. Fiquei bastante feliz ao fazer essa pesquisa especial para o aniversário de 154 anos de Rio Negro, pois é algo bem importante da nossa história.

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No dia 15 de agosto deste ano eu tive uma boa conversa sobre fatos históricos com o querido amigo Severino Narloch (Seve Narloch), que é filho de Domingos. Eu já conhecia algumas realizações do pai dele, mas fiquei impressionado ao perceber que ele fez muito mais por Rio Negro. Sou muito grato ao Seve pela colaboração dada para a realização deste resgate histórico.

FAMÍLIA

Domingos Severino Narloch nasceu no dia 16 de abril de 1927 em Itaiópolis-SC. Mudou-se para Rio Negro e ao se tornar um bom cidadão rio-negrense passou a defender o município.

Além do Severino Narloch, Domingos teve outros três filhos: Mauren Narloch, Karin Narloch Ruoso e Charles Narloch. Ele foi casado com Ivone Katzwinkel Narloch, que atuou como professora de língua portuguesa durante 30 anos no Colégio Caetano.

VIDA DE COMERCIANTE

Com o falecimento de seu sogro, em 1956 Domingos assumiu em Rio Negro o Armazém Katzwinkel, que ficava localizado em frente à Praça João Pessoa, na esquina da Rua Coronel Nicolau Bley Neto, onde atualmente há uma lanchonete.

O Armazém Katzwinkel era um comércio tradicional de secos e molhados. Era um dos maiores da região. As mercadorias chegavam de trem em diversos vagões e depois eram levadas para um depósito. Domingos assumiu os negócios e lutou para colocar as contas em dia.

Aproximadamente dez anos depois o comércio de secos e molhados foi se desfazendo e Domingos resolveu abrir no mesmo local a Loja do Narloch, que era focada em datas temáticas. No Carnaval, por exemplo, a loja era a única a vender produtos específicos para a festa. Da mesma forma, na Páscoa, no Natal, entre outras datas importantes, a loja ficava decorada e cheia de produtos específicos para as ocasiões. Além de produtos temáticos, a Loja do Narloch também comercializava cristais e presentes finos.

A Loja do Narloch funcionou nesse estilo até meados de 1970, quando Domingos inovou novamente e começou a trabalhar na área de história e cultura. No mesmo local ele criou um dos primeiros antiquários do sul do Brasil. Domingos resgatou peças antigas de toda a região, para isso ele viajou para vários lugares atrás de antiguidades.

Seve Narloch lembra que várias autoridades e pessoas famosas passaram pela loja em busca de antiguidades. Também lembra que seu pai era um grande restaurador de peças antigas, mesmo sem possuir cursos técnicos. Ele sempre foi um grande autodidata.

SEIT

Em 1959, quando ainda trabalhava com o Armazém Katzwinkel, Domingos Severino Narloch criou o Serviço de Expansão Industrial e Turismo (SEIT), que tinha como objetivo principal divulgar o município para o mundo, fortalecendo o turismo e atraindo novas empresas para Rio Negro. Através do SEIT Domingos conseguiu, por exemplo, que a Prefeitura doasse áreas para as novas indústrias e fez o primeiro contato com as empresas interessadas.

O SEIT atuou como um grande guia turístico e permaneceu ativo por vários anos. Ele foi bastante elogiado em diversos jornais do Brasil.

O serviço teve dificuldades financeiras, pois nunca obteve verba pública, mas a dedicação era uma das qualidades marcantes de Domingos, que realizava os serviços com o próprio dinheiro e com o apoio de amigos que sabiam da importância do SEIT.

Domingos realizou várias atividades em prol de Rio Negro através do SEIT. Estas são apenas algumas das realizações:

  • Produção e expedição do livreto chamado “Rio Negro” e folhetos informativos.
  • Produção de flâmulas para eventos comemorativos para destacar Rio Negro.
  • Produção de canecos de cerveja com o brasão de Rio Negro referente ao centenário de emancipação e também de camisetas com o brasão e a frase “Rionegrense com orgulho”. A distribuição desses materiais era gratuita.
  • Instalação de um “portal” no alto da Rua Vicente Machado com uma faixa dando as boas-vindas aos visitantes.
  • Instalação de um mastro triplo no centro da ponte interestadual (Ponte Metálica), no qual foi hasteada a bandeira do Brasil, do Estado do Paraná e do Estado de Santa Catarina em todos os feriados.
  • Envios de artigos sobre Rio Negro e região para jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
  • Pagamento de anúncios em revistas importantes para divulgar o município de Rio Negro.
  • Divulgação dos festejos da Colonização Alemã em vários jornais do país.
  • Publicações em jornais com instruções sobre o plantio de erva-mate. Domingos foi um grande incentivador desta cultura. Também fez campanha para o plantio de oliveiras.
  • Recepção e informações dadas aos visitantes durante os festejos da Colonização Alemã, além de outros eventos realizados em Rio Negro.
  • Envios de informações sobre terrenos e preços para empresas interessadas em Rio Negro.
  • Realização de resgates históricos com estudos e pesquisas.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES

Domingos Severino Narloch estava à frente do seu tempo. Foi um homem de visão e tinha senso crítico, por isso enxergava os problemas existentes em Rio Negro e corria atrás das soluções. Para isso ele fez diversos contatos com o governo municipal, estadual e federal, sempre com muito profissionalismo.

Em 1960 e 1961, por exemplo, ele enviou um ofício ao Governo Federal solicitando a construção de uma nova ponte em Rio Negro, pois havia essa necessidade naquele tempo, já que a Ponte Metálica não estava em boas condições e não era mais suficiente para atender ao tráfego que aumentava cada vez mais. Em 1969 o desejo foi realizado com a construção da Ponte Interestadual Coronel Rodrigo Ajace (Ponte Nova).

Com relação à Ponte Metálica, Domingos chegou a subir na estrutura para mostrar às autoridades a situação precária da ponte. Em uma foto ele aparece mostrando as ferrugens que havia na estrutura.

Domingos também participou de um projeto que pretendia construir um “aeroporto” em Rio Negro. Isso é algo que eu defendo muito. Em 2021 eu publiquei um texto aqui no site sobre isso. Naquela época Domingos Narloch já sabia da importância que um campo de pouso teria para o desenvolvimento de Rio Negro e região. Apenas isso prova que ele pensava grande.

Na época foi realizado um estudo topográfico pormenorizado para a construção de um campo de pouso em Rio Negro. O serviço de topografia foi pago por Domingos. Em março de 1961 a imprensa noticiou: “Rio Negro ganhará aeroporto: 2 mil metros de pista”. A diretoria de engenharia do Ministério da Aeronáutica solicitou ao SEIT o envio de materiais indispensáveis para o planejamento e feitura do projeto, como a planta topográfica e nivelamento do terreno em secção transversal, resumo de observações meteorológicas sobre a cidade, além de dados informativos completos sobre as cidades que seriam beneficiadas com a construção do campo de pouso.

Foram várias as correspondências enviadas para autoridades e recebidas por elas. Alguns exemplos:

  • Domingos sugeriu a construção da estrada ligando Rio Negro a São Mateus do Sul.
  • Solicitou a presença de técnicos da Petrobras para a realização de um levantamento e pesquisas de petróleo existente na região.
  • Solicitou o prosseguimento das obras do ginásio estadual e escola agrícola que estavam paradas. Também pediu a reforma da escola da Fazendinha.
  • Enviou ofícios ao Ministério do Trabalho solicitando a equiparação dos salários mínimos de Rio Negro e Mafra. Com o mesmo teor, igualmente foi enviado ofício ao presidente da Comissão do Salário Mínimo no Rio de Janeiro. Domingos defendia os trabalhadores.
  • Solicitou ao Ministério da Agricultura as instruções gerais para formação de cooperativas agrícolas e mistas.
  • Enviou ofício ao Instituto Nacional de Imigração e Colonização para a localização de colonos holandeses no município.
  • Enviou ofício a Companhia de Cigarros Souza Cruz oferecendo cooperação e incentivo na cultura de tabaco na região.

POR AMOR

Como foi possível observar, o senhor Domingos Severino Narloch realizou várias ações em prol de Rio Negro. E fez tudo isso por amor, pois ele não ocupou cargos políticos. Ele também foi delegado, mas sem receber remuneração. Fazia o trabalho porque gostava de servir ao povo.

Em uma entrevista ele afirmou: “Acredito que qualquer cidadão de bem, com boas intenções, poderá fazer muita coisa sem ser eleito ou ocupar qualquer cargo eletivo. Um pouco de amor pela cidade e um pouco de boa vontade e poderá ser feito muito, mas muito mesmo”.

Esse ensinamento foi passado aos filhos. Há uma emocionante mensagem que ele escreveu em 30 de dezembro de 1960:

“Aos meus filhos, com votos, para que, também vocês trabalhem pela cidade em que forem residir. A vida é curta, passa de pressa, por isso deve-se aproveitar para fazer o bem e assim ficará o rastro da passagem nossa por esta vida. Vençam a vida, pelo esforço próprio”.

IDEALIZADOR DE PROJETOS

Além do comércio no Centro e do Serviço de Expansão Industrial e Turismo, o senhor Domingos Severino Narloch também foi idealizador de outros projetos que foram importantes para o desenvolvimento de Rio Negro.

Em 1959 ele foi o idealizador da “1ª Exposição Agro-Pecuária e Industrial de Rio Negro e Mafra” dentro das comemorações dos 130 anos da colonização alemã. O evento ocorreu de 08 de novembro a 08 de dezembro e contou com a presença de diversas autoridades. Domingos também foi o organizador da 1ª Feira de Frutas Regionais em Rio Negro e fundou a União Comercial Rionegrense.

Domingos utilizou a loja que possuía no Centro para divulgar o município e incentivou outros comerciantes a praticarem o mesmo com a “campanha dos luminosos” que agitou as cidades. Flâmulas foram criadas, assim como bolsas de viagem com estampas que evidenciavam os recantos de Rio Negro e Mafra.

Essa ação foi uma grande forma de propaganda que alavancou as vendas no comércio. Os produtos eram expostos para que os próprios munícipes e visitantes adquirissem e conhecessem as atrações de Rio Negro e Mafra. Para o turismo isso foi importante para a divulgação das cidades.

Domingos também criou livretos e folders contendo informações detalhadas de Rio Negro, como as atrações turísticas, principais atividades, o clima, posição geográfica, dados estatísticos, etc., além de fotos da época.

Ele desejava o progresso de Rio Negro, por isso esses materiais foram espalhados gratuitamente por várias regiões do Brasil e no exterior para mostrar que o município era bom para se viver e bom para investimentos. Veículos de comunicação da América do Sul, da Europa e dos Estados Unidos utilizaram os materiais para destacar os benefícios do município de Rio Negro.

JORNALISMO

No jornalismo o senhor Domingos trabalhou como correspondente em jornais renomados no país, como a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Estado do Paraná, sempre defendendo Rio Negro com textos bem elaborados que evidenciavam tudo que havia de melhor no município.

Ele também foi um grande repórter fotográfico. Há belas fotos históricas que são de sua autoria e depois foram passadas para a historiadora Maria da Glória Foohs. Boa parte dessas fotos encontra-se atualmente no Arquivo Público Municipal de Rio Negro.

BRASÃO E BANDEIRA

Domingos Severino Narloch também atuou como heraldista e teve uma importante participação na criação do brasão e da bandeira do município de Rio Negro, que foram aprovados pela Lei nº 23/68, tendo depois uma nova redação com a Lei nº 168/74. Ele foi o responsável pelo estudo, pesquisa e elaboração dos desenhos. Isso é algo que precisa ser reconhecido, pois a origem dos símbolos do município de Rio Negro tem grande importância.

O projeto de lei para a criação do brasão e da bandeira foi autoria do vereador Dr. Roland von Linsingen. O orientador heráldico designado pela Câmara de Vereadores foi Venceslau Muniz Filho. A lei foi sancionada pelo prefeito Maximiano Pfeffer. Em segunda redação o texto da lei foi corrigido e ampliado pelo prefeito Dr. Alceu Antonio Swarowski (Lei nº 168, de 03 de dezembro de 1974).

LIVRO SOBRE RIO NEGRO

Um livro com a história de Rio Negro também foi desenvolvimento por Domingos. Ele terminou a pesquisa em 1978.

O livro foi datilografado por ele, mas não foi publicado. Eu tive acesso ao conteúdo e garanto que é um grande resgate histórico do município. É um livro que merece ser publicado, então eu já me prontifiquei a ajudar voluntariamente com isso usando os meus serviços editoriais. O livro de Domingos Severino Narloch é algo que ajudará muito na preservação da nossa história.

CONTATO COM A NASA

Há outro fato interessante que prova que o senhor Domingos Severino Narloch tinha grande importância para Rio Negro. Atualmente, com todo o avanço da comunicação, poucas pessoas conseguem fazer um contato direto com a National Aeronautics and Space Administration (NASA). Domingos conseguiu nos anos 60!

Em 1966 objetos espaciais foram encontrados em Itaiópolis. A explosão no céu foi observada no dia 06 de maio daquele ano. Eram fragmentos do foguete Saturno I, que tinha iniciado as experiências do chamado Projeto Apolo, cujo objetivo era colocar uma nave na superfície lunar.

Domingos resgatou os fragmentos e deixou expostos em sua loja em Rio Negro. Um ofício de agradecimento foi enviado para ele pela “Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço” dos Estados Unidos. O documento da NASA confirmava que os fragmentos eram de fato do foguete espacial.

Técnicos norte-americanos especialistas em engenhos espaciais, juntamente com oficiais da Força Aérea Brasileira, estiveram em Rio Negro naquele ano e foram recebidos pelo senhor Domingos. Eles vieram analisar os fragmentos que ficaram expostos por três semanas na loja até serem enviados ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

BOAS ATITUDES

Domingos Severino Narloch foi um grande empreendedor, mas acima de tudo foi um bom cidadão. Uma das atitudes de um bom cidadão é cuidar dos bens públicos e isso ele fazia com muita dedicação, como foi o caso da Ponte Metálica.

Outro fato ocorreu na Praça João Pessoa. Seve Narloch me relatou que certa vez o seu pai percebeu um homem que estava arrancando a cerca de madeira da praça. Ele chamou a atenção do sujeito e fez com que ele recolocasse as madeiras no devido lugar.

Ainda com relação à Praça João Pessoa, Domingos impediu que um prefeito retirasse o busto de Manoel Ribas do local. Da mesma forma, ele impediu que outro prefeito mandasse cortar uma árvore nativa de erva-mate no Centro da cidade.

Domingos também abrigava temporariamente crianças que eram abandonadas (algo comum em certas épocas), que depois tiveram um bom caminho, pois conseguiram ter um bom estudo e uma boa colocação no mercado de trabalho graças às boas atitudes de quem os acolheu.

HOMENAGENS

Domingos Severino Narloch faleceu aos 84 anos de idade no dia 11 de março de 2012. Atualmente poucas pessoas conhecem a sua história. Consequentemente há pouco reconhecimento para este homem que muito fez por Rio Negro e pela região, por isso eu criei esta publicação para que as boas ações que ele realizou sejam divulgadas e valorizadas.

Esta publicação é uma singela homenagem ao senhor Domingos que foi um grande exemplo de cidadão, de empreendedor e de um apaixonado por Rio Negro. Ele defendeu a cidade e incentivou as pessoas a fazerem o mesmo. Isso é algo que eu defendo muito também, por isso fiquei emocionado ao conhecer a história desta grande pessoa.

Sem dúvida o senhor Domingos Severino Narloch merece ser homenageado de forma grandiosa. Em Rio Negro há uma rua no bairro Tijuco Preto com o seu nome, mas eu penso que ele merece muito mais.

Domingos Severino Narloch pode ser homenageado em diversas áreas, pois foi uma pessoa multifuncional. De modo geral ele foi um grande divulgador de Rio Negro e recepcionou muitas pessoas fornecendo informações sobre o município. Uma homenagem nesse sentido seria algo bem justo para preservar a história deste importante cidadão.

Neste aniversário de Rio Negro eu deixo aqui os meus parabéns ao município e o meu muito obrigado aos familiares do senhor Domingos Severino Narloch. Sintam-se valorizados!

A seguir estão algumas fotos e recortes de jornais que mostram as grandes ações de Domingos Severino Narloch:

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